Manaus, 30 de novembro de 2023

Bom combatente

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“Era dos brasileiros um especialista em questões de fronteiras e em várias oportunidades foi chamado a presidir e participar de comissões de demarcação do território nacional.

Muitos brasileiros-amazônicas desempenharam papel importante na implantação da República no Amazonas, especialmente diante das disputas acirradas entre grupos de militares que se formaram em derredor, ora de Deodoro da Fonseca, ora de Floriano Peixoto, com repercussão na trajetória e deslocamento do poder local.

A chamada classe política advinda do período imperial, com todas as folgas e gozos, bem que tentou se manter no governo republicano criando novos partidos e modificando o discurso e a opinião de seus jornais, até porque o republicanismo, o federalismo e o positivismo não foram temas amplamente debatidos em Manaus no final dos anos 1880, e, se não fosse a passagem relâmpago do conde d’Eu em meados de 1889 em excursão por Manaus e Tabatinga, talvez não tivesse havido a consolidação do Club Republicano comandado por Carvalho Leal e Bernardo Ramos.

Um dos que mais se destacou na época e com extensão até os anos 1920, sem dúvida, foi Gregório Thaumaturgo de Azevedo, piauiense de nascimento, formado em ciências físicas e matemáticas pela Escola Militar de Realengo e depois em direito pela Faculdade do Recife, conseguia mobilizar militares e civis em derredor de suas ideias e seus arroubou revolucionários. Era dos brasileiros um especialista em questões de fronteiras e em várias oportunidades foi chamado a presidir e participar de comissões de demarcação do território nacional diante de países vizinhos, especialmente na Amazônia, sempre com êxito, inclusive na região acreana, de onde se tornou governador de departamento.

Seu maior confronto político, entretanto, foi com Eduardo Ribeiro em 1890-1891-1892 em disputa pelo cargo de governador do Amazonas, depois de sua breve experiência na direção do Piauí de cujo cargo teria saído desconsiderado pela imprensa, e bem antes de cumprir o mandato. Nesse enfrentamento o vencedor foi Ribeiro, inclusive por erro estratégico de Thaumaturgo que resolveu apoiar Deodoro quando do golpe com o qual o marechal fechou o Congresso Nacional, e, com a assunção de Floriano à chefia da Nação, ao qual Eduardo Ribeiro era vinculado, teve no vice-presidente seu maior opositor e autor das ordens de deposição.

Afastado do cargo e fugindo da capital em razão de movimento popular e partidário, manteve interesse na política amazonense e, anos depois, voltou a disputar eleições governamentais mas não alcançou êxito, falecendo seu obter essa chance. Os últimos dias de sua curta gestão foram desesperadores. Rebeldia do povo, prisões, deportação de opositores, ameaça de fuzilamento, tiros, feridos a bala e discursos políticos inflamados em praça pública e no hall do Palácio do Governo.

Essa faina, ao contrário do que se pode pensar em revisão apressada da história, não o desmerece, ao contrário, o engrandece, seja pelas posições que assumiu e de fendeu com estoicismo, seja pela contribuição que, mesmo em pouco tempo de gestão, legou aos amazonenses com boas propostas de modernização da cidade que precisava ser transformada sob o ponto de vista urbano, o que veio a ser efetivado por Eduardo Ribeiro

Trata-se de figura exponencial de militar e político, afeito a causas sociais e aos interesses superiores do País e que reclama estudos acadêmicos abalizados e detidos que sejam capazes de descortinar para os tempos atuais, com precisão e clareza, as razões de seus posicionamentos, fugindo da simples afirmação de que padeceu em razão de seu temperamento nervoso e irritadiço. Enfrentar as oligarquias há de ter sido razão bastante para o que lhe fizeram, a mesma coisa que, afinal, culminou com o assassinato de Eduardo Ribeiro anos depois.

Em verdade, Thaumaturgo de Azevedo foi o bom combatente.

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