Manaus, 22 de novembro de 2024

Crise econômica, política ou moral?

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A Profa. Dra. Cristiane Derani, uma das mais lúcidas cabeças em Direito Ambiental Econômico, que foi professora do Programa de Pós-graduação em Direito Ambiental da UEA, por cerca de 10 anos, compartilhou, no “facebook” uma entrevista do Professor Emérito de Filosofia na Johann Wolfgang Goethe University de Frankfurt – Jürgen Habermas – concedida ao jornal The Guardian, sobre a crise na Grécia e o acordo firmado com a União Europeia e com os donos do dinheiro do mundo.

O professor Habermas – filósofo e sociólogo – considera que o acordo não faz sentido do ponto de vista econômico porque mistura as necessárias reformas estruturais do estado com as imposições neoliberais que desencorajam ou matam os ímpetos de crescimento da população grega. Perguntado se a crise era econômica, política ou moral afirmou que ela se expandiu por causas econômicas e políticas, mas considera que os tomadores de decisão, que são os únicos em posição de agir, não têm condições de atuar em nome dos interesses da comunidade europeia e a população grega. Isso tem cheiro de crise moral e ética.

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Dias atras postei no facebook uma foto do Brasil noturno mostrando a zona de escuridão em que se insere a Amazônia apesar de inúmeras hidrelétricas aqui instaladas, cujos reservatórios inundam e matam enormes porções da floresta. E perguntei: Isso é justo? Meu comentário da foto dizia que a regra que vale no mundo todo – energia e dinheiro tem fluxo inverso – não vale aqui e recebi um comentário de uma pessoa que prefiro resguardar no nome, contando a seguinte história: “Prof. Ozorio, em uma conversa informal com uma parlamentar representante do Amazonas, durante um intervalo num evento sobre mudanças climáticas, esta “comemorou” a ligação do linhão de Tucurui, ressaltando a importância do Amazonas estar finalmente interligado ao Brasil (sim, com essas palavras). Aproveitei a oportunidade para dizer que infelizmente estaríamos interligados para funcionar como fornecedores e que nem haveria qualquer ganho tributário, afinal quem arrecada o ICMS é o Estado que distribui a energia e não o que fornece. Recebi como retorno à seguinte resposta: “imagina! claro que não! o Amazonas vai ganhar muito com isso. E eu, daquele meu jeito às vezes nada diplomático, reafirmei: “não vamos ganhar nada, nem o ICMS será nosso, e o que eu vejo são apenas os fios suspensos na cabeça do caboclo que continua na lamparina. A senhora precisa conhecer essa realidade.

Levantando-se do sofá para se servir de mais alguns salgadinhos ela me olhou com um olhar de claro que conheço, e essa história de não receber imposto nunca ouvi falar”.

CRISES SÃO SIMILARES

Embora não seja filósofo nem sociólogo e nem pertença a uma instituição mundialmente famosa, me atrevo a dizer que a crise brasileira e amazonense é homóloga à europeia e grega, isto é, tem correspondência de forma e função reveladas alicercadas em um grave desequilíbrio econômico, político, moral além de ressonâncias na ética e na falta de saberes.

CBA: UM PRATO FEITO

Sei perfeitamente que tanto os parlamentares como os membros da elite econômica não comem prato feito, a não ser aqueles que são servidos em um restaurante de luxo que fica na Recife. Todavia, eles são propensos a engolir qualquer coisa feita na cozinha do poder central e, mesmo depois de uma montanha de denúncias e provas de corrupção e devassidão política e econômica, não têm coragem de vir a público se penitenciar pelo apoio dado às eleições de Lula e Dilma esses políticos perniciosos que colocaram o Brasil em uma situação de distúrbio político, econômico, moral e ético. O prato feito cozinhado pelos burocratas do MDIC para o CBA e servido para os políticos (um horror, e o exemplo acima é emblemático) e empresários (que aplaudiram), me obriga a plagiar a opinião do Prof. Habermas e dizer que a crise no CBA tem origens econômicas e políticas e que os tomadores de decisão do MDIC, a classe política e os empresários não têm condição para falar em nome dos interesses da população do Amazonas, pelo menos dos que têm abundantes neurônios funcionais. Como fui Diretor do Inpa muitos me perguntam por que os trabalhos do Instituto não se resolvem em projetos fabris. E eu, respondo repetidamente: 1) o Instituto produziu muito conhecimento sobre a biota amazônica e é só ler os trabalhos publicados por seus pesquisadores; 2) a transferência do balcão de pesquisa para o chão da fábrica não é e não pode ser feita por cientistas.

E o CBA que é a nossa única opção de desenvolvimento vai continuar inerte.

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