A Amazônia é mundialmente conhecida por macro descritores que homogeneízam suas múltiplas diversidades. O começo da sua história escrita, contém narrativas imaginativas feitas pelos primeiros navegadores e cronistas que exercitaram fantasias para tentar explicar e desvendar os “mistérios” que criavam e/ou não entendiam. Vem daí os devaneios que identificaram a Amazônia como Eldorado, Pátria das Índias Guerreiras – as Amazonas – de Francisco Orellana, Planície Amazônia, Terra de Ophir, etc.
Nesses tempos mais recentes, mesmo que parte da realidade seja conhecida, ainda surgem ficções como “Inferno Verde” e “Pulmão do Mundo”, que abastecem uma literatura sensacionalista, aproveitando aspectos não desvendados da natureza e as faces e fácies míticas e místicas das culturas dos povos da floresta que resultam das diversidades físicas, étnicas, sociais, culturais, biológicas, econômicas, de povoamento, etc.
HISTÓRIAS
A denominação “pátria das amazonas” foi um delírio erótico de Francisco Orellana, que inventou essa estória depois de ter ficado muito tempo sem companhia feminina. A tipificação “planície amazônica” foi destruída pelas imagens de satélite que revelam ser planície, apenas 7% do território, com as demais áreas (93%) ocupadas por morros, morrotes, colinas, cristas, encostas, montanhas como o Pico da Neblina (2.993,8 m) – ponto culminante do Brasil – e os vales afogados, alguns metros abaixo o nível do mar, como na foz do rio Negro.
A ocupação humana também é plena de fantasias entre as quais uma afirmando que Noé teria dado a seus descendentes – Ophir e Jabol – os territórios do Peru e Brasil, além de relatos de conexões com a Atlântida e a presença, por aqui, de chineses, fenícios, hebreus e árabes.
DATA DA CHEGADA
Oficialmente o governo reconhece que os primeiros habitantes vieram da América do Norte, através do Istmo do Panamá. A caminho deles começou na África, chegou à Ásia chegando à América do Norte depois de atravessarem o Estreito de Behring, (24.000 anos atrás) durante uma glaciação quando o nível do mar baixou cerca de 100 metros. Foram conquistando novos espaços no rumo sul, chegaram à América Central, atravessaram o Istmo do Panamá, entraram na América do Sul e chegaram à Amazônia por volta de 12.000 anos atrás.
UMA HISTÓRIA PARA PENSAR
Essa única origem de ocupação da Amazônia é contestada pelos estudos sobre a diversidade fenotípica e genotípica de descendentes de migrantes que entraram pelo atual Estado de Roraima revelando, pelo menos, quatro diferentes migrações.
Um dos relatos sobre a Amazônia a denomina de Terra de Ofir (ophir = longe e também o nome do descendente de Noé) que era o nome dado por hebreus e fenícios para o local onde os navios, depois de viajar por três anos levavam ouro para a construção do Templo de Jerusalém, no tempo do rei Salomão. Essa versão estabeleceu uma relação entre ophir, auphir, apir e aypira, vocábulos que se transformaram em aupira, iapira, iapurá = Japurá, um afluente da margem esquerda do rio Solimões que seria, quem sabe, a Terra de Ofir.
Reforçando essa estória existe um texto de Henfique Onffrey de Tharon, publicado pela primeira vez, em 1869, no jornal geográfico O Globo, de Gênova, que foi enviado para a municipalidade de Manaus, onde foi traduzido e publicado pelos Annaes da Bibliotheca e Archivo, sob forma de folheto com 51 páginas impresso na Typographia do Commercio do Amazonas, com o título: “Antiguidade da navegação do oceano. Viagens dos navios de Salomão pelo rio das Amazonas, Ophir, Tardschish e Parvain” onde o autor relata supostas viagens dos navios daquele rei pelas águas amazônicas.
E, por último creio que é importante registrar o relato do Barão de Santana Nery que cita o relatório de um missionário afirmando que a tribo dos Uerequenhas, do rio Içana, usavam nomes bíblicos como Joab, Jacob, David, e que os índios do rio Içá praticavam a circuncisão em recém-nascidos.
Parte de nossa história foi destruída por uma transgressão marinha ocorrida cerca de 6.000 anos atrás que alagou importantes sítios arqueológicos nas margens dos rios, e a parte que resta está nos “livros terra preta”, que são destruídos por projetos como o da construção da cidade universitária da UEA cujo terreno abriga muitos fragmentos de nosso passado. Político sem compromisso com nossa história, destrói bibliotecas antigas, sem qualquer constrangimento.