O leite de colônia
Poucos sabem que Manaus, a terra do já teve e do vai ter, agora já tendo, possuiu uma indústria farmacêutica importante, onde teve origem os dois conhecidos Leite de Colônia e Leite de Rosas, usados em todo o País. Hoje ambos são produzidos no Sul, uma tendência que só agora começamos a reverter, graças à Zona Franca.
O fabricante do Leite de Colônia morava e trabalhava na mesma rua, farmácia e residência eram separadas por dois ou três quarteirões, mas tinha o costume de pegar todos os dias, no fim do expediente, de manhã e de tarde, o bonde Saudade ou o Circular-Avenida, por causa da cansativa subida da Avenida Eduardo Ribeiro.
Dizem que ele era fanho, isto é, tinha um defeito congênito de formação do lábio superior ou do palato, o lábio leporino, que lhe dava a voz roufenha característica.
Certo dia, no trajeto do bonde Saudade, foi interceptado pelo cobrador da Manaos Tramways, com a conhecida frase, em tom fanhoso:
– A passagem! Por favor!
Ao que retrucou roufenho…
– O senhor está me imitando?
– Não. Eu sou fanho desde criança.
– Que coincidência…
E a passagem foi paga.
De volta de uma viagem ao Rio, o farmacêutico ficou encantado com os versos do Rum Creosotado, nos bondes daquela cidade, e prometeu um prêmio para quem fizesse um parecido com aqueles, para o seu produto:
Olhe senhor passageiro,
O belo tipo faceiro
Que você tem ao seu lado
E, no entanto, acredite,
Quase morreu de bronquite,
Salvou-o o Rum Creosotado.
Logo um funcionário do London Bank, resolveu criar os versos especiais tão solicitados e saiu-se com esses:
Cafiaspirina cura dor,
E também cura insônia,
Mas pra catinga de suvaco,
Só o Leite de colônia.
Como seria de esperar, esses versos jamais foram publicados.