Presidenciável / Presidente Fernando Henrique
Fernando Henrique Cardoso. Sociólogo, Cientista Político, Professor e Escritor, também conhecido como FHC. Nasceu no Rio de Janeiro em 1931. Transferido com sua família para São Paulo, graduou-se em Sociologia e em seguida (1961) doutorou-se pela USP, da qual mais tarde se tornou professor emérito. Antes, foi primeiro assistente de Florestan Fernandes e auxiliar de ensino do sociólogo e professor visitante francês Roger Bastide. Casou-se em 1953 com a antropóloga Ruth Vilaça Cardoso. Perseguido pelo golpe militar de 1964, teve que se asilar no Chile e na França, mas voltou ao Brasil em 1968. Iniciou sua carreira política no MDB. Em 1978 concorreu ao Senado Federal elegendo-se suplente de Franco Montoro. Com a eleição deste para o governo de São Paulo, assumiu o Senado em março de 1983. Candidato a prefeito de São Paulo, em 1985, foi derrotado por Jânio Quadros. Reeleito senador (1987-1995), em 1988 ajudou a fundar o PSDB. Após o impeachment de Fernando Collor (1992), FHC contribuiu para pacificar as várias correntes inseridas no governo de Itamar Franco, do qual foi ministro das Relações Exteriores (1992-1993) e ministro da Fazenda (1993-1994). Neste cargo chefiou a elaboração do Plano Real, que acabou com a hiperinflação e estabilizou a economia – para o que contou com uma equipe de economistas novos e experientes, de que fizeram parte Pérsio Arida, Armínio Fraga, André Lara Rezende, Gustavo Franco, Pedro Malan, Edmar Bacha, entre outros. Escorado no sucesso do Plano Real, FHC sagrar-se-ia presidente da República nas eleições de 1994. Reeleito, quatro anos depois, ele foi presidente por dois mandatos consecutivos (de 1º/01/1995 a 31/12/1998 e de 1º/01/1999 a 31/12/2003), tendo em ambos como vice-presidente o ex-senador alagoano Marco Maciel. Suas principais marcas foram a manutenção da estabilidade econômica com a consolidação do Real, iniciado no governo de seu antecessor, Itamar Franco, a reforma do Estado brasileiro, com a privatização de estatais, a criação das agências regulatórias, a mudança da legislação que rege o funcionalismo público e a introdução de programas de transferência de renda como o Bolsa-Escola.
Na campanha eleitoral de 1994, além de FHC, outros sete candidatos disputaram a Presidência da República. Seu principal concorrente foi Luiz Inácio Lula da Silva, do PT. Até junho daquele ano, o petista liderou todas as pesquisas de intenções de votos. Com a crescente aceitação popular ao Plano Real, que passou a vigorar em julho de 1994, FHC tomou-lhe a dianteira até ser sufragado na eleição do dia 3 de outubro. Além do PSDB, Fernando Henrique recebeu o apoio formal do PFL e do PTB. O candidato a vice-presidente foi escolhido pelo PFL, que indicou o senador alagoano Guilherme Palmeira, mas denúncias de um esquema de corrupção com empreiteiras forçaram a substituição de Palmeira pelo senador pernambucano Marco Maciel.
Fernando Henrique elegeu-se presidente em primeiro turno, com 34,3 milhões de votos (54,28% do total apurado) e Lula obteve pouco mais de 27% dos votos. Empossado em 1º de janeiro de 1995, FHC prosseguiu com as reformas econômicas iniciadas no governo anterior. A inflação baixa e a privatização de diversas empresas deram maior visibilidade no mercado externo. O governo conseguiu aprovar leis de interesse do País tanto na área econômica quanto na administrativa. O mandato presidencial vigente foi estabelecido pela Assembleia Nacional Constituinte em cinco anos sem a possibilidade de reeleição.
O governo federal começou a planejar a emenda constitucional permitindo a experiência ainda em 1994. Todavia, o projeto só foi apresentado em 1997, resultando na emenda constitucional número 16, aprovada pelo Congresso Nacional em 4 de junho desse mesmo ano, que permitiu uma reeleição consecutiva para o Executivo em todos os níveis, com mandato de quatro anos. Meses após a ratificação do processo de reeleição, parlamentares governistas admitiram ter vendido seus votos e acabaram renunciando. As investigações sobre o caso nunca avançaram.
A segunda candidatura de FHC foi apoiada por uma coligação de partidos de centro-direita, como o PFL, o Partido Progressista (PP) e o PTB, contando com o apoio informal da maior parte dos membros do PMDB.
Seus principais oponentes foram Luiz Inácio Lula da Silva e Ciro Gomes (PPS). Desde o início da campanha eleitoral, as pesquisas de opinião indicavam FHC como o candidato favorito. Em 4 de outubro de 1998, foi reeleito com 35,9 milhões de votos (53,06%), contra 31,7% de Lula e 10,9% de Ciro. Desta forma, tornou-se o único presidente do Brasil a conseguir, até então, dois mandatos nas urnas e a ser eleito e reeleito no primeiro turno.
Fernando Henrique Cardoso, além de intelectual de peso, é considerado um dos personagens mais importantes da história do Brasil republicano. Escreveu e publicou mais de trinta livros: o primeiro deles,
“Mudanças Sociais na América Latina”, lançado em 1969; e o último, “Diários da Presidência “, 3º volume, em 2017. Atualmente preside a Fundação FHC, fundada em São Paulo pelo próprio, em maio de 2004, e participa de diversos conselhos consultivos em diferentes órgãos no exterior. Também é membro do The Elders, sediado em Londres (Inglaterra), e da Academia Brasileira de Letras.
Do intelectual FHC pode-se falar maravilhas. Do político, nem tanto; ele errou bastante repetindo (e/ou sendo copiado por) outros mandatários brasileiros, vezeiros em praticar malfeitos. Inobstante os avanços sociais de seu governo (na Educação houve a redução do analfabetismo; e na Saúde a quebra de patentes para casos de emergência em saúde pública, o sucesso do programa de combate à AIDS e a redução dos índices de mortalidade infantil), os anos finais do governo FHC foram marcados pelo
aumento da insatisfação popular. Entre os fatores que explicam esse descontentamento, estão: 1) a crise da energia elétrica; 2) o crescimento da dívida externa do setor público; 3) o retorno do processo inflacionário; e 4) elevadas taxas de desemprego.
A mancha-roxa do governo FHC foi a reeleição, cuja Proposta de Emenda à Constituição (PEC), que contou com o irrestrito apoio do presidente, foi aprovada pelo Congresso Nacional em 1997, permitindo-lhe conquistar um segundo mandato em 1998. FHC sequer avaliou que, dali por diante, a reeleição viria a ser a mãe de todas as crises políticas do Brasil. O ex-presidente foi acusado de ter comprado votos para garantir a aprovação da alteração constitucional. Depois dele, foram beneficiados pela reeleição os ex-presidentes petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. O atual, Jair Messias Bolsonaro, é candidatíssimo a um segundo mandato.
Transcorridos 23 anos da incorporação do instituto da reeleição à Constituição do Brasil, Fernando Henrique Cardoso fez uma meia culpa. Em artigo sob o título “Reeleição e crises”, publicado em 6 de
setembro do ano passado nos jornais O Estado de São Paulo e O Globo, o ex-presidente escreveu:
“Devo reconhecer que historicamente foi um erro. […] Permiti, e por fim aceitei. […] Sabia, e continuo pensando assim, que um mandato de quatro anos é pouco para ‘fazer algo’. Tinha em mente o que acontece nos Estados Unidos. Visto de hoje, entretanto, imaginar que os presidentes não farão o impossível para ganhar a reeleição é ingenuidade”.
Como afirmou acertadamente o jornalista Ricardo Noblat, no dia seguinte ao mea culpa de Fernando Hernque Cardoso,
“Vem tarde e dará em nada o ‘mea culpa’ do ex-presidente por ter aceitado a aprovação pelo Congresso da emenda constitucional que permitiu sua reeleição. […] Ninguém deu bola para ela. Até que um dia se deu. Disse Fernando Henrique […] que se temia a eleição de Lula, derrotado por ele em 1994, e, antes disso, por Fernando Collor de Mello em 1989. Houve denúncias de que a reeleição fora comprada. [Mas FHC] nega seu envolvimento com a compra de votos […] Uma das fraquezas da democracia é que a liberdade por ela assegurada, se exercida na contramão do bom senso, pode voltar-se contra ela mesma. Em um mundo carente de estadistas, só o voto corrige o estrago que o próprio voto produziu. A
democracia não garante sempre a escolha do melhor, apenas permite que se continue tentando, tentando, até
acertar”.
Aposentado da política desde quando deixou o governo, em janeiro de 2003, o sociólogo e cientista o lítico Fernando Henrique Cardoso continua sendo referência nacional, principalmente dentro do PSDB. Ele tem três filhos: Paulo Henrique, Luciana e Beatriz, frutos de seu casamento com a doutora em antropologia Ruth Cardoso, que faleceu em 2008. Em 2014, FHC casou-se pela segunda vez com Patrícia Kundrát, ex-secretária executiva do Instituto FHC e 46 anos mais nova que o marido.
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A visita do presidente Fernando Henrique a Itacoatiara – com o fito de inaugurar o terminal privado da Hidrovia Madeira-Amazonas, destinado a escoar a produção de grãos de Rondônia e do Centro-Oeste
para os portos de Belém (PA) e Itaqui (MA) – ocorreu num sábado, dia 12 de abril de 1997. Assim registrou FHC em seu Diário:
“Domingo, 13 de abril, onze e quarenta da noite. Sexta-feira e sábado passei o dia visitando Boa Vista, Manaus, Itaquatiara e Porto Velho. Lançando projetos importantes de integração viária e hidroviária para a exportação de produtos brasileiros. Muita agitação. Parece que todos os setores políticos de mais peso – sabe Deus como se forma esse peso – me apoiam. (…) Voltamos para Brasília ontem à noite”.
Ao tratar do mesmo assunto, fiz constar no segundo volume do meu livro Cronografia de Itacoatiara:
“1997: 12 de abril – Visita do presidente Fernando Henrique Cardoso. Inaugurado o Terminal Graneleiro da Hermasa. Acompanhando o presidente da República, estiveram em Itacoatiara os governadores Amazonino Mendes, do Amazonas, e Dante de Oliveira, de Mato Grosso, ministros de Estado, senadores, deputados federais, estaduais, prefeitos, vereadores e empresários.
Inaugurando a pista ampliada do Aeroporto do Guajará, o avião presidencial aterrissou exatamente às 9:30 horas, seguido de dezenas de outras aeronaves. FHC foi recebido por cerca de três mil pessoas que o aplaudiam portando bandeirinhas e faixas de boas-vindas. No pátio do Terminal Graneleiro, sua subida ao palanque, sob uma rajada de fogos de artifício, também resultou apoteótica.
Conforme o noticiário de imprensa, “o presidente se disse emocionado ao acionar o sistema de operação para o primeiro embarque de grãos [no gigantesco navio cargueiro ali ancorado]”.
Releva informar ainda que, entre as autoridades que àquela altura recepcionaram o presidente FHC e sua comitiva, estava o deputado estadual Ademar Marques.
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Antes dessa visita presidencial, quando ainda senador por São Paulo e, portanto, um simples residenciável, Fernando Henrique Cardoso já estivera em Itacoatiara. Estávamos em 1991: procedente de Manaus, tendo ao lado sua esposa Ruth Cardoso, FHC veio acompanhado de uma seleta comitiva liderada pelo então prefeito da capital Arthur Virgílio Neto.
Depois de recebido no porto da cidade, no meio da noite de 5 de setembro, pelo prefeito Francisco Pereira da Silva, além do presidente da Câmara Jurandir Pereira da Costa, do promotor de Justiça licenciado Francisco Gomes da Silva, do engenheiro Nelson Neto, do comerciante José Antunes de Araújo, do advogado Jânio Hélder Lopes e vários vereadores, correligionários e simpatizantes do PSDB – o casal FHC-Ruth Cardoso foi jantar no tradicional Restaurante Ponto Chic. De lá, sempre acompanhados de amigos e admiradores o senador paulista e sua esposa seguiram para a Quadra Herculano Castro e Costa onde se realizava o 7º Festival da Canção de Itacoatiara (FECANI).
Aboletado na tribuna improvisada na parte mais alta da quadra esportiva, e rodeado de autoridades, artistas e dirigentes do Festival, o casal Fernando Henrique-Ruth Cardoso mostrou-se impressionado com a
qualidade das músicas apresentadas, o desempenho e a espontaneidade dos intérpretes que se revezavam no palco amplo e colorido à sua frente e, sobretudo, com a exultação de milhares de pessoas que ali
compareciam.
Até então, o FECANI constituía um pequeno festival reunindo compositores locais e de Manaus. Pelo histórico da entidade mantenedora dele, a AIRMA, o evento foi idealizado
“[…] com o intuito de reunir e manter contato, a fim de buscar formas de ajudar a melhorar a cultura da cidade […] realizar anualmente um evento que pudesse divulgar a cidade optando por aprovar um projeto cultural […].
Com o apoio da Superintendência Cultural do Amazonas, para coincidir com o aniversário da cidade, marcaram a realização do 1º FECANI para os dias 23, 24 e 25 de abril de 1985. Todavia, a morte do presidente Tancredo Neves fez adiar a programação para 27, 28 e 29 de setembro. E assim, em 1985, na Quadra Herculano Castro e Costa, em frente à Igreja Matriz, acontecia, pela primeira vez, o Festival da Canção de Itacoatiara”.
Com o passar dos anos o FECANI tomaria outra projeção ganhando adeptos de várias partes do País e de países vizinhos. Já superada sua 34ª versão anual, são quatro dias de festa no mês de setembro, e desde alguns anos vem sendo realizada no Centro Cultural Juracema Holanda: um espaço que faz jus à grandeza do Festival e de todas as outras manifestações culturais e esportivas que lá ocorrem. Indubitavelmente, hoje o Festival da Canção de Itacoatiara enfileira-se entre os maiores do Brasil. E, como registrado alhures:
“[…] o grande resultado do FECANI é a apresentação ao público de novos intérpretes e compositores, o incentivo à produção musical. Para quem participa, fica a prazerosa sensação de subir ao palco e soltar a voz diante do público e dos jurados. Para quem assiste, fica na memória a intensidade dos toques vibrantes dos instrumentos e a emoção transmitida pela força de cada interpretação”.
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Conforme registrado antes, a visita do presidente FHC a Itacoatiara ocorreu num sábado, dia 12 de abril de 1997. Na sexta-feira anterior, dia 14 de abril, o presidente da República esteve em Boa Vista. Na capital roraimense se encontrou com seu homólogo venezuelano Rafael Caldera, com quem assinou atos relativos à pavimentação da BR-174, rodovia que liga Manaus à fronteira com a Venezuela, e à construção do linhão Guri-Macaguá, para suprimento de energia no Estado de Roraima. De Boa Vista FHC foi para Manaus, onde discursou no encerramento do Encontro Empresarial Brasil-Venezuela e assinou acordos bilaterais com o presidente Caldeira. FHC pernoitou na capital amazonense e, na manhã do dia seguinte, viajou para Itacoatiara, onde inauguraria o terminal privado da Hidrovia do Madeira.
A instalação do Terminal Graneleiro da Hermasa foi destacada pelo presidente FHC como uma iniciativa pioneira na região, por reunir o setor privado e os governos federal, estadual e municipal, que representam, segundo ele, “um sentido maior de integração nacional. Esta obra tem procedência nacional porque vai incrementar o volume de exportação de grãos no País com uma economia de pelo menos 30% no custo do transporte”, ressaltou. O prefeito Miron Fogaça disse acreditar que o novo porto hidroviário ia atrair “novos investimentos para o [seu] Município”, e asseverou que “empresários dos setores de fertilizantes, ração, esmagamento de soja e indústria madeireira já haviam contatado com a Prefeitura em busca de informações”. O governador Amazonino Mendes fez um discurso marcado por congratulações e agradecimentos.
A cerimônia de inauguração foi breve: durou cerca de uma hora e meia. De Itacoatiara o presidente Fernando Henrique avionou para Manaus e de lá seguiu para Porto Velho, onde inaugurou a Hidrovia Madeira Amazonas e o terminal do porto graneleiro local. Entretanto, como afirmamos à época, o terminal da Hermasa caminha[ria] para ser o mais novo polo de desenvolvimento econômico e sustentável [desta parte] do Brasil. Situado numa área de 150 mil metros quadrados, [e] parte de projeto que utiliza[ria] de forma exclusiva a Hidrovia do Madeira para o transporte de grãos e insumos agrícolas na região amazônica. Com capacidade de movimentação para até 5 milhões de toneladas/ano, o terminal [seria] administrado pela [referida empresa] do grupo Maggi, de capital misto, com participação do governo do Amazonas. [dotada de] equipamentos capazes de proceder ao descarregamento de uma barcaça com duas mil toneladas de grãos em apenas uma hora. Sua condição de empresa de capital misto, como foi dado a conhecer pelo noticiário jornalístico da época, foi derrogada, e ela ficaria absoluta no mercado.
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Os acontecimentos ligeiramente posteriores à passagem por Itacoatiara do presidente FHC, na sua maior parte, revelaram-se positivos influenciando no bom caminhar desta comunidade – o que nos leva a
afirmar, sem sombra de quaisquer dúvidas, que 1997 foi um ano prodigioso para Itacoatiara. Aqui vão alguns exemplos:
Março. Implantação do Plano Municipal de Desenvolvimento Rural (PMDR). À época, um documento inédito no interior do Estado, concebido para nortear as ações do setor primário, no período 1997-2000, e na sua formatação atuaram entidades das três esferas públicas. O Município foi dividido em cinco polos e, respeitadas as vocações das populações de várzea e terra firme, foram projetadas ações na área produtiva com metas para culturas alimentares, industriais, extrativistas e inclusive pesca artesanal. Previram-se investimentos na infraestrutura de apoio (abertura e recuperação de vicinais, eletrificação rural, captação de água, construção de redes hidráulicas, armazenamento, frigorificação, escoamento e comercialização de produtos etc.), assentamento rural e regularização fundiária.
18 de março. Inauguração do Escritório Regional do SEBRAE/Am. Experiência pioneira no interior amazonense, dita instituição estava capacitada a prestar orientação e assessoramento a médios e pequenos empresários do comércio, da indústria e do setor de serviços locais.
14 de abril. O Município de Itacoatiara se faz representar na 50ª Feira Internacional de Hannover, na Alemanha. Após mais de 80 anos, Itacoatiara se fazia novamente presente em uma exposição de tal porte.
Desta feita, o fez através do senhor Moysés Israel que, juntamente com representantes de outras instituições do Estado do Amazonas, esteve naquele importante centro industrial e comercial europeu divulgando o nosso parque fabril (madeireiro especialmente), e oportunizando atrair novos investimentos para esta região.
30 de abril. Reativação da Associação Comercial de Itacoatiara (ACI). Embora constem registros de que, sob a presidência do comerciante judeu Jayme Baruel, a ACI existe desde 1905 – foi oficialmente fundada em 17 de novembro de 1943 e reconhecida de utilidade pública, pela Câmara Municipal, em 12 de maio de 1949. Entretanto, estando há mais de 20 anos paralisada, naquele ano de 1997 o processo de sua reativação contou com o apoio da Prefeitura. À noite de 30 de abril foi eleita e empossada a nova Diretoria, sob a presidência de José Antunes de Araújo, o popular Zé Batista. Meses depois, a ACI emitiria o primeiro certificado de origem declarando que as primeiras 53.600 toneladas de soja exportadas pela empresa Sementes Maggi Ltda., através do recém-inaugurado porto da Hermasa, eram de origem brasileira.
28 de julho. O reitor da Universidade do Amazonas (atual UFAM), professor doutor Walmir Albuquerque (filho de Itacoatiara), reúne os prefeitos do Médio Amazonas e anuncia a implantação de cursos universitários permanentes e não mais itinerantes. Na oportunidade, foi anunciado que o Centro Universitário de Itacoatiara (CEUNI) ia ganhar instalações novas e definitivas. Na reunião com o prefeito de Itacoatiara e os representantes dos demais municípios integrantes do Polo Itacoatiara propiciou-se o levantamento das demandas de cada um no sentido de acelerar o processo de interiorização definitiva da Instituição.
3 de agosto, domingo. A Seleção de futebol de Itacoatiara conquistou a 5ª Copa dos Rios. Com a vitória de 4 a 2 sobre a Seleção de Tefé, a equipe itacoatiarense consagrou-se bicampeã do torneio formado por seleções dos principais municípios do interior. Tendo como palco o Estádio Vivaldo Lima, em Manaus, a partida decisiva contou com grande número de torcedores tanto da capital como dos municípios disputantes.
Segundo “A Crítica”, de 5 e 24 e agosto de 1997, na segunda-feira seguinte, “A população de Itacoatiara parou para receber seus jogadores. Já com a taça na mão o prefeito Miron Fogaça anunciou que o Município vai ter um time disputando o próximo campeonato de futebol profissional”. Como que provando ser Itacoatiara um celeiro de craques, naquele ano, ainda conforme o mesmo jornal, “Alguns jogadores da seleção campeã já estavam sendo sondados para integrar equipes profissionais de Manaus e até de Portugal”. Caso dos jovens Jeremias da Silva e Denys Fonseca, principais goleadores da 5ª Copa dos Rios, que no dia 22 de agosto de 1997 embarcaram com destino a Lisboa, onde foram juntar-se à equipe do Maia Clube, da segunda divisão do futebol profissional português.
17 de setembro. Chegada da Comissão Especial da Câmara dos Deputados para investigar a atuação das madeireiras asiáticas na Amazônia.
Sob a presidência do deputado federal Gildey Viana (PT/MT), relatoria do deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) e acompanhamento do superintendente regional do IBAMA, Hamilton Casara, seus membros conheceram projetos que aliavam tecnologia de ponta e preocupação ambientalista em programas de manejo autossustentável, nos quais a preservação da natureza era fundamental. Caso da empresa Mil Madeireira, do grupo suíço Precious Woods: estabelecida numa área de 50 mil hectares, dividida em 25 lotes de dois mil hectares cada um. A cada ano, explorava (e ainda explora!) um único dos 25 lotes, deixando que os demais se regenerassem.
Todo esse processo era (ainda o é!) controlado por computador.
25 de dezembro. Com o título “Natal de Luzes e Cores”, e o subtítulo “O Natal em Itacoatiara Será Lindo”, a Prefeitura Municipal realizou, entre 19 e 25 de dezembro, uma série de eventos tendo como palcos as praças da Matriz, Polícia, São Francisco de Assis, Divino Espírito, Nossa Senhora de Nazaré e São Lázaro. Constou de shows de luzes, musicais e de cores, cantatas e corais natalinos, peças teatrais, presépios, Papai Noel, projeções audiovisuais, pastorinhas, dramatizações e ceias de Natal. Num clima de perfeita união entre amigos e vizinhos, aqueles espaços públicos foram arrumados, ornamentados e iluminados com motivos natalinos, culminando no dia 24 de dezembro com o concurso de ornamentação, do qual constaram os ítens: melhor presépio, criatividade, decoração e participação comunitária. Uma bela festa, sem dúvida. Tudo no interesse de unir a população e reconquistar a sua autoestima, além de fazê-la mais amorosa de sua cidade.
Em 1997, além da visita do presidente Fernando Henrique Cardoso, outras ilustres personalidades passariam por Itacoatiara, obedecendo à seguinte ordem: 22 de abril, dez jornalistas alemães; 8 de junho, a diretoria nacional da Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (EMBRAPA); 18 de junho, quinze oficiais do Alto Comando das Forças Armadas do Brasil, comandados pelo general de brigada Valter da Costa; 20 de junho, o exprimeiro ministro português Mário Soares, acompanhado do presidente da Câmara Municipal do Porto, Fernando Gomes, e do embaixador suíço Oscar Knapp; 13 de agosto, vários empresários oriundos da Malásia; 27 de agosto, vários professores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); meados de outubro, uma equipe da Comunidade Israelita do Amazonas, liderada por seu presidente Isaac Dahan, veio conhecer o Cemitério Israelita de Itacoatiara, instalado em 1919.
Por último, destacamos a visita, no dia 20 de dezembro de 1997, do economista Mauro Ricardo Costa, superintendente da SUFRAMA, acompanhado de sua esposa, do procurador-geral da Autarquia, Hildebrando Afonso Carneiro, do assessor deste, Francisco Gomes da Silva, do presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (FIEAM), José Nasser, do diretor do Instituto Euvaldo Lodi (IEL), Moysés Israel, dos assessores da FIEAM, Alfredo Lopes e Ramiro Moreira, e outros. Em Itacoatiara, o secretário de Produção Rural representando o governador Amazonino Mendes, José Maia, incorporou-se à comitiva.
Os caravaneiros, depois de recepcionados pelo prefeito Miron Fogaça, vereadores, secretários municipais e representantes das classes produtoras, visitaram as instalações da Cooperativa de Corte e Costura, do Centro Municipal de Treinamento Agrícola, dos frigoríficos Itaboi e Real, além das empresas madeireiras sediadas no Município. Na oportunidade, sequenciando ao plano de interiorização da SUFRAMA, o superintendente Mauro Costa assinou com o prefeito municipal importantes convênios repassando recursos na ordem de dois milhões de reais, destinados à aquisição de uma patrulha mecânica para a Prefeitura, à construção de uma estação rebaixadora de energia e ao início das obras de asfaltamento e instalação de poços artesianos na área designada para construção e funcionamento do Polo Moveleiro.
Este convênio foi o segundo e último gesto de caráter integrativo, ou de interiorização, presidido pela SUFRAMA em benefício de Itacoatiara.
O primeiro, ainda em meados da década de 1980, da lavra do ex-superintendente Joaquim Pessoa Igrejas Lopes, resultou na construção das pontes do rio Urubu, nos quilômetros 20 e 96 da Rodovia AM-10, e da Escola Venâncio Igrejas Lopes – as primeiras em convênio com o governo do Estado do Amazonas, e a última, com a Prefeitura de Itacoatiara e a Loja Maçônica Glória de Hiran.
Quanto ao Polo Moveleiro de Itacoatiara (PVI), um projeto de cunho desenvolvimentista compatível às necessidades municipais, desenhado para empregar centenas de peritos na arte de fabricar móveis e peças afins, e destinado a suprir os mercados interno e externo desses materiais – não suportando às crises existenciais a que foi submetido, pelo descaso e pela inoperância tanto de autoridades quanto de órgãos representativos da categoria, foi praticamente descartado. Atualmente, suas instalações encontram-se em ruínas e seu maquinário abandonado, corroído pelo tempo.
*Capítulo Decimo segundo, do livro Presidentes e Presidenciáveis da República em Itacoatiara, do Autor.
Obs. Este artigo teve suprimidas suas notas. A quem interessar a leitura do texto original, completo, pode acessar o link a seguir.