Manaus, 28 de novembro de 2023

Quanto a Zona Franca de Manaus

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Alguns dos meus sete leitores enviaram mensagens e comentários a propósito de minhas opiniões sobre o projeto autoritário da Zona Franca, instigando-me a seguir com o meu raciocínio. As comemorações pela prorrogação por mais meio século desse entulho autoritário talvez seja o tempo necessário para as oligarquias locais encontrarem finalmente uma rota de escape desse círculo vicioso. Não podemos esquecer que aproveitando a legislação, essas indústrias se estabeleceram numa área da cidade de Manaus, no chamado Distrito Industrial, onde receberam terrenos a preços irrisórios, totalmente urbanizados, como nenhum conjunto habitacional supostamente para pessoas de baixa renda recebeu. E, assim, entrou em atividade um parque  industrial de “beneficiamento” produzindo em toda sua capacidade e operando numa área onde as facilidades eram, na verdade, uma conjuntura favorável. Para completar, como extensões de grandes complexos, as indústrias da Zona Franca são administradas de maneira direta e seu capital pouco é afetado pela disponibilidade local. A participação de capital oriundo do tradicional extrativismo foi mínima e era possível notar, por volta do final da década de 70, grandes comerciantes do extrativismo, de outrora, hoje atrelados como sócios minoritários, com cargos simbólicos nas empresas altamente subsidiadas instaladas em Manaus.Eram indústrias que tudo trouxeram de fora, da tecnologia ao capital majoritário, e que do Amazonas somente aproveitaram a  mão-de-obra barata e os privilégios institucionais. Com essa estrutura industrial altamente artificial, a Amazônia Ocidental teve o seu quinhão da política de integração nacional. A promessa de quarenta mil empregos não se cumpriu, mas ajudou a provocar uma explosão demográfica em Manaus. De cerca de cento e cinquenta mil habitantes em 1968, a cidade pulou para seiscentos mil em 1975. As transformações sociais e culturais da Zona Franca em Manaus são bastante distintas daquelas que aconteceram durante o cicio da borracha. Enquanto a cidade era a capital mundial da borracha, Manaus rapidamente se consolidou como centro urbano, e desenvolveu os primeiros sistemas de serviços públicos, como eletricidade, distribuição de água e esgotos.

Naquele período a cidade teve suas ruas pavimentadas, o seu crescimento planejado, viu crescer o numero de hospitais e abriu-se para as influências culturais cosmopolitas. Criou uma Universidade e construiu uma casa de óperas. É claro que todas aquelas vantagens eram direcionadas aos ricos, àqueles que lucravam com o comercio do látex, No entanto, o desenvolvimento de Manaus durante o ciclo acompanhou o crescimento populacional, sem degradação dos serviços, O oposto ocorreu com a Zona Franca de Manaus.

O aceno de 50.000 empregos atraiu uma população de migrantes que nunca mais cessou de apertar em Manaus, A rápida instalação de empresas comerciais, as lojas de artigos importados que pululavam pelo centro histórico da cidade, a chegada de empresas multinacionais no distrito industrial, as firmas de consultoria, os institutos de pesquisas, as novas sucursais de instituições públicas, a horda de turistas em busca de aparelhos eletrônicos baratos e a vaga de migrantes em busca de novas oportunidades, transformou a cidade num inferno.

Especialmente porque tal demanda chegava num momento em que a estrutura da cidade estava decadente. Em 1960 a cidade de Manaus ainda conseguia acomodar seus 200 mil habitantes, embora tudo estivesse à beira rio colapso. As telecomunicações eram impraticáveis, a distribuição luz e água precária e os prédios públicos estavam quase em ruínas, Hoje, em plena segunda década do século XXI, a cidade continua com sua malha urbana apodrecida, com o transporte público na mão de mafiosos e uma população condenada a alienação.

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