Juca Chaves, decano do humor no Brasil, falou certa vez, durante entrevista na televisão, que no seu show o estudante pagava “meia” pela tabela reduzida e mais “meia” pela oportunidade de aprender alguma coisa boa com o espetáculo.
Lembrei disso outro dia, quando ouvi um trecho da conversa entre duas professoras, sentadas à minha frente, na sala de espera de uma agência da CAIXA.
– Esse desconto que dão pro estudante também eles deveriam dar pra nós, professores, não acha, colega?
– Concordo, amiga! E digo mais: deveria haver desconto pro professor não só no ônibus, mas em toda parte: na padaria, no supermercado, no cabeleireiro, no shopping…
– Mas aí, minha querida, todo mundo ia querer ser professor, ou passar por professor.
– Mas, o Governo estabeleceria um controle, fornecendo uma carteirinha de professor para ser apresentada nos lugares onde fosse preciso dar desconto, e válida em todo o território nacional. Essa carteirinha identificaria o subsidiado professor.
– Você está certa, colega. Nessa carteirinha deveria constar uma legenda por baixo do nome do portador, informando; fulano de tal, professor subsidiado...
(risos…)
– Eu vejo até o seguinte: quando a gente apresentasse a carteirinha ao caixa do supermercado, a atendente acionaria a luzinha vermelha, chamando o supervisor para autorizar o desconto.
– Colega, se o supervisor demorasse a chegar… isso chamaria a atenção dos que estivessem na fila, e logo ia aparecer alguém protestando: “ei, que demora é essa? Eu também quero desconto… ”.
– Ou seja, amiga, o professor sempre estaria chamando a atenção para si, onde fosse exigir o desconto institucionalizado!
– Mas acho que teria um efeito positivo, colega: a classe estaria sempre em evidência, ou, como dizem por aí, estaria em visibilidade, certo? Visibilidade é importante para a categoria, amiga. Não apenas para a causa salarial, mas também para a causa da falta de segurança nas escolas, para a causa da falta de bom material didático, para a causa por melhores condições físicas dos prédios escolares… etc… etc.
– Vi-si-bi-li-da-de, colega.
– Vi-si-bi-li-da-de, amiga.
(risos…)
– O direito de ir e o vir subsidiado, colega! Pois não concedem subsídios para tudo nesse país? Por que, então, a atividade de professor, que é uma atividade de risco, não poderia receber subsídios governamentais?
– Sonhar não custa nada, né colega? Mas vamos botar os pés no chão. Eles não pagam direito nem o nosso salário… imagine se vão querer subsidiar a classe!!! Vão dizer como sempre dizem “que o cofre está furado”.
– É, maninha, o cofre só não está furado quando é pro interesse deles…
– …
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Fico devendo o resto da conversa porque chegou a hora do meu atendimento.
Mas fiquei impressionado como pronunciavam subsídio:subcídio (com “c”). Muito melhor do que se ouve comumente por aí:subzídio (com “z”).
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