Manaus, 28 de novembro de 2023

Tempos de Ditadura

Compartilhe nas redes:

Insistem em marca o dia 31 de março como a data do golpe civil militar que derrubou o presidente João Goulart. À bem da verdade o golpe triunfou no dia 1 de abril, o dia da mentira, data mais do que apropriada para a quartelada que mergulhou o Brasil num dos momentos mais sombrios de sua história. Na manhã do dia 31 de março, tropas de Minas Gerais, comandadas pelo general Olympio Mourão Filho, que se auto definia como Vaca Fardada, mas que em verdade era um notório fascista, desceram a serra em direção do Rio de Janeiro, obrigando os generais daquela cidade a se apressar antes que ficassem de fora do butim. A história desse momento vergonhoso já está bastante destrinchada do ponto de vista político, embora muitos fatos dos sangrentos porões do regime continuem obscurecidos.

O certo é que as massas populares, os operários, os camponeses e parte da classe média apoiavam as propostas reformistas do governo Goulart, apoio este atestado pelos números expressivos das pesquisas eleitorais da época. Mas não vou aqui contar a história deste horrendo momento de nossa história. Com bem presenciamos nas manifestações saudosistas das últimas semanas, uma ínfima minoria de nostálgicos, de velhos e empedernidos milicos de pijama, de uma súcia de notórios reacionários e uma maioria de beócios que na verdade não sabia do que estavam falando, a volta de uma Ditadura neste nosso ainda sofrido Brasil não está nem mesmo no mais longínquo horizonte. Por isso, neste domingo de mormaço e preguiça tão manauara, O que precisamos reafirmar e o compromisso de cada cidadão de bem em aperfeiçoar nossa jovem democracia, superando o desânimo pelos desmandos e desídias de todos os dias, certos de que embora a democracia não seja um regime político exatamente perfeito, é ainda o melhor que o gênio humano já criou. Mas um dos aspectos mais extraordinário dos regimes democráticos é o cuidado com a justiça e a verdade. E é aqui, no que diz respeito ao processo de passar o passado autoritário a limpo, que estamos ainda marcando passo, cautelosos num terreno cediço, que nos impede de dar o grande salto para o futuro. Neste momento há uma proliferação de livros sobre os acontecimentos de 1964, alguns bastante críticos, outros nem tanto.

A verdade é que desde as primeiras semanas após a quartelada foram surgindo obras corajosas de cunho jornalístico. Lembro que na tarde do 1 de abril de 64, encontrei na avenida Eduardo Ribeiro meu amigo Randolpho Bittencourt.

Comentamos sobre os acontecimentos e meu amigo estava apreensivo, bastante abatido, bem distante de sua habitual exuberância. Tratei de minimizar o acontecido, ingenuamente acreditando no velho costume da conciliação, mas Randolpho foi taxativo e me disse, triste: “Não, Márcio, essa ditadura vem para ficar muitos anos”. De fato, padecemos longos e brutais 25 anos de assassinatos, tortura e políticas antinacionais. Eu não podia acreditar que o Exército de Rondon tivesse se transformado naquela quadrilha de traidores da pátria e carniceiros. Sofremos na resistência e nunca perdemos a esperança da liberdade, que veio depois com um arreglo entre os setores liberais e grandes segmentos de velhos apoiadores do regime discricionário. É por isso que não podemos nos calar quanto parte significativa dos políticos não tem nenhum compromisso com a democracia. Temos de estar alertas, quando chefões do velho SNI estão no comando do governo, e políticos da ARENA arrotam seus amores pelas liberdades conquistadas. Mas nem todos os nossos políticos foram adesistas. Tivemos aqui Almino Afonso, Artur   Virgílio Filho, João Valério e Bernardo Cabral, entre outros, que desde os primeiros momentos de 1964 denunciaram as arbitrariedades e por isso foram banidos da vida política nacional e estadual, abrindo espaços para os esses oportunistas que se perpetuam no poder.

Compartilhe nas redes:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

COLUNISTAS

COLABORADORES

Abrahim Baze

Alírio Marques