Em 2012, a editora Campinas (SP) traduziu e publicou um livro do escritor Charles Mann, intitulado “1493: como o intercâmbio entre o novo e o velho mundo moldou os dias de hoje”, que meu amigo, o Prof. Dr. Walmir de Albuquerque Barbosa me deu de presente.
Um dos capítulos, com o subtítulo “Ouro Negro” conta uma viagem feita pelo autor nos arredores do Vilarejo Longyin Le, na China, constituído por casas tinham aquecedores solares e antenas parabólicas no telhado. No limite da Vila começava uma enorme “floresta” com árvores de 15 metros todas da mesma espécie e com a mesma idade, plantadas pelo governo. Segundo o autor, a copa era incólume e na base de cada tronco havia uma tijelinha para onde escorria, por cortes espirais, um liquido viscoso, o látex. A “floresta”, plantada pelo governo é de Hevea brasiliensis, a nossa seringueira que a insensatez (burrice) de governantes deixou de plantar, apesar das advertências de intelectuais e homens probos da época.
Riqueza perdida
A revolução industrial do século 19 dependia, basicamente, de três materiais essenciais: aço, combustível fóssil e borracha. Na época o Brasil não tinha indústrias siderúrgicas, nem de petróleo, além de nosso carvão mineral ser insuficiente para atender a demanda interna. Em compensação tínhamos borracha e os ingleses, que estavam na liderança da nova era, usaram suas reservas de combustível fóssil (carvão) para fabricar aço, mas como não tinham borracha, se voltaram para nossos seringais naturais e, assim, criaram e impuseram ao Brasil um modelo de exploração e explotação da borracha nativa, sendo viável supor que por traz dessa injunção do capital, houvesse uma ameaça de invasão da Amazônia. Para dotar o hinterland de mão de obra o Brasil foi obrigado a trazer para os seringais amazônicos, milhares de nordestinos que Euclides da Cunha tipificou como “o homem que trabalha para escravizar-se”.
As sementes levadas
Só gente despreparada podia imaginar que as sementes de Hevea não estivessem sendo levadas, tanto de forma legal (como as de Warren Dean), com através dos naturalistas, que, desde o inicio da colonização, entravam livremente na Amazônia e daqui mandavam amostras para instituições no exterior.
E o debacle aconteceu
O ano de 1910 ficou marcado na história como o ano final do ciclo da borracha, porém o atestado de óbito foi passado em 1951 quando o Amazonas recebeu as primeiras 400 toneladas de borracha importadas da Malásia.
O fim do ciclo deixou a Amazônia (e o Amazonas particularmente) em situação de extrema pobreza, uma realidade que poderia ter sido evitada ou pelo menos minimizada se os governantes ouvissem as advertências de Cosme Ferreira Filho, Felisberto Camargo, Carlos Eugenio Chauvin entre outros, incluindo nesse elenco esse centenário Jornal do Commercio que, em sua edição de 14/04/1913 publicou: “[…] a exploração da borracha no vale do Amazonas suggere immediatamente ao homem intelligente não somente a vantagem, porem mesmo a urgente necessidade de seu plantio”.
Do outro lado da inteligência registro a declaração do governador do Pará – Augusto Montenegro que, em 1910, o mesmo ano que marca o fim do ciclo gomífero, fez um pronunciamento dizendo: “Não precisamos nos preocupar com as plantações de borracha que surgiram na Ásia. As condições climatéricas especiais do vale amazônico, o novo sistema de beneficiamento do nosso produto, que atualmente está sendo aplicado com tanto êxito nas nossas colheitas da Hevea, as imensas extensões de nossas regiões seringueiras, algumas ainda inexploradas e, finalmente, as inúmeras necessidades da indústria moderna nos permitem fazer pouco caso do que os outros estão realizando no mesmo setor. Com efeito, se não considerássemos um dever acompanhar as descobertas científicas relacionadas com a borracha da Índia, poderíamos, perfeitamente, ignorar por completo as plantações estrangeiras”.
Nesse tempo de eleição penso que o povo deveria estar suficientemente instruído para escolher pessoas com saberes e não aquelas que se apoiam em políticas assistencialistas que são importantes para resolver problemas imediatos, mas não trazem acenos de futuro promissor. Nossas amazonidades, especialmente o ciclo da borracha, deveriam ser mostradas e debatidas com os jovens, nas escolas públicas e privadas.