Manaus, 29 de novembro de 2023

ZFM, passivo amazônico vivo

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Acompanhando as discussões sobre os rumos da Zona Franca de Manaus até 2073, economistas e lideranças empresariais vêm alertando o governo sobre a necessidade de se chegar a uma definição clara, ampla e objetiva nesse sentido o quanto antes. Como o pesquisador José Maria Cardoso da Silva, Vice-Presidente Executivo dos Programas de Campo da “Conservation International”, uma organização não-governamental sediada em Washington, DC, que atua em mais de 40 países. Além de desenvolver pesquisas sobre sistemática, ecologia, biogeografia e conservação de aves sul-americanas, vem acompanhando alguns destes questionamentos. Em troca de e-mail,  Cardoso da Silva demonstrou fazer coro com o pensamento local, ao observar,  sucintamente, o cerne do problema ZFM sob o seguinte ângulo: A ideia da Zona Franca de Manaus “não era de migrar do eletroeletrônico para o biotecnológico? Porque essa transição não está acontecendo? Faltou gente? Faltou interesse?”.

Samuel Benchimol, em diversas obras de sua autoria, estabelece as bases para uma cosmovisão da região amazônica, a partir dos seguintes pressupostos geopolíticos:  a) representa a Vigésima parte da superfície terrestre; b) Quatro décimos da América do Sul; c) Três quintos do Brasil; d) Um quinto da disponibilidade mundial de água doce; e e) Um terço das reservas mundiais de florestas latifoliadas. Contraditoriamente, esta imensidão de terras, águas e florestas abriga  apenas dois e
meio milésimos da população mundial. A bacia amazônica abrange a extensão enorme de 7 milhões de km2, duas vezes maior que a do Mississipi (3,2 milhões de km2) e duas vezes e meia maior que a do Nilo (2,8 milhões de km2).

Benchimol observa ainda como o mais  impressionante dessa imensidão a espessa floresta latifoliada tropical, do tipo hiléia, de grande extensão e homogeneidade panorâmica, cobrindo 70% de toda região.

A cobertura vegetal restante, localizada nas ladeiras das cordilheiras e do planalto brasileiro, é composta por florestas mistas de transição, zonas de cocais, cerrados e savanas. Por outro lado, Euclides da Cunha, salienta Samuel Benchimol, após ter traduzido sua experiência nordestina no monumental “Os Sertões”, onde descreve incomparavelmente a luta titânica do homem contra o meio físico que o envolve, tenta repetir essa mesma experiência na Amazônia, para onde segue integrando a Comissão Mista Brasileiro-Peruana de reconhecimento do alto Purus (1905).

Rodrigo Otávio Jordão Ramos,  Comandante Militar da Amazônia/12ª Região Militar (1969/1970) foi um dos militares que muito lutou em prol da necessidade estratégica premente de uma maior integração, desenvolvimento e defesa da Amazônia brasileira. Ao criar e instalar o 2º Grupamento de Engenharia em Manaus, afirmou na Ordem do Dia respectiva constante do boletim especial n° 12, do DPO, do ano de 1970, que a Amazônia “não é um inferno verde nem um paraíso perdido! Mas, sim, uma vasta área onde toda uma geração espera ansiosa e confiante o esplendente alvorecer de um amanhã fecundo, diferente e promissor. É tempo, na verdade, de o homem comandar a vida na Amazônia, deixando de escravizar-se ao rio, como secularmente vem acontecendo. É tempo de findar aquela extrema anomalia, tão decantada no passado de que o homem, na selva, vivendo da exploração florestal, pelo isolamento insuperado, trabalha para escravizar-se.É tempo de mudarmos essa imagem.O que queremos é uma Amazônia integrada, mas para sempre brasileira”.

Desafios e problemas que permanecem vivos, alguns ainda insolúveis, desde Pedro Teixeira, passando por Euclides da Cunha, Ferreira de  Castro, Arthur Reis, Leandro Tocantins, Djalma Batista, Armando Dias Mendes, Bertha Becker, Márcio Souza, Violeta Refkalefsky Loureiro, Alfredo Oyama Kingo Homma, o próprio Samuel Benchimol, dentre outros. Conforme a canção de Gilberto Gil, estes estudiosos nos legaram régua e compasso, que, todavia, em pleno século XXI ainda não aprendemos a usar para traçar nosso destino.

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